Antes de apresentar as 6 dicas para você, vou mostrar resumo do artigo feito por David W. Galenson que analisa quem são os maiores artistas vivos no mundo e o resultado das vendas em leilões de arte. Uma vez que você tenha lido este resumo, as dicas abaixo vão fazer mais sentido para você.
O que o mercado de leilões revela sobre os maiores artistas vivos
Introdução
O debate sobre o valor da arte e o papel do mercado na determinação da importância artística é antigo e polêmico. Muitos críticos afirmam que os preços de leilão são irracionais e não refletem o verdadeiro mérito dos artistas. No entanto, David Galenson propõe um contraponto interessante: ao observar os artistas vivos cujas obras alcançaram preços acima de US$ 1 milhão em leilões, é possível identificar padrões de grandeza e influência que são validados tanto por estudiosos quanto pelo mercado.
Leilões como métrica de relevância
Galenson parte da ideia de que os leilões refletem mais do que apenas desejo financeiro: eles traduzem reconhecimento cultural e validação institucional. Os artistas mais bem colocados em suas tabelas não são apenas nomes populares, mas figuras centrais na história recente da arte, como Jasper Johns, Bruce Nauman, Gerhard Richter, Robert Rauschenberg e Jeff Koons.
Duas métricas principais foram utilizadas:
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Maior preço individual alcançado por uma obra
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Número de obras vendidas acima de US$ 1 milhão
Os rankings obtidos por essas métricas revelam uma sobreposição significativa, sugerindo que o mercado realmente reconhece os artistas mais influentes.
A juventude como momento de inovação
Um dos aspectos mais marcantes observados por Galenson é que a maioria das obras mais valorizadas foram produzidas quando os artistas estavam em torno dos 30 anos. Isso reflete a predominância de uma abordagem conceitual na arte contemporânea, onde a originalidade e a ruptura são mais prováveis em estágios iniciais da carreira, antes que estilos e convenções se consolidem.
A era da arte conceitual
Desde os anos 1950, a arte contemporânea tem se afastado da experimentação empírica e se aproximado de um paradigma conceitual. Artistas como Johns, Rauschenberg, Nauman, Koons e Hirst exemplificam essa tendência ao criar obras baseadas em ideias previamente concebidas, muitas vezes executadas por assistentes ou por meio de processos industriais. Nesse contexto, a influência de Duchamp é central.
Carreiras conceituais x experimentais
O estudo também traça diferenças entre artistas conceituais, que tendem a ter picos precoces, e artistas experimentais, como Lucian Freud, cuja relevância aumenta ao longo do tempo. Galenson destaca que os maiores preços de leilão estão associados à produção inicial dos conceituais, enquanto os experimentais são exceção na lista.
Geografia, formação e colaboração
Outro fator explorado é a localização geográfica. Nova York continua sendo o principal centro de validação artística, embora artistas europeus ganhem destaque crescente. Galenson também chama a atenção para o papel das escolas de arte (como Yale e Goldsmiths) na formação de artistas conceituais e para a importância da colaboração entre pares nos momentos iniciais das carreiras.
Conclusão
O mercado de leilões, apesar das críticas, oferece uma perspectiva poderosa sobre quem são os artistas vivos mais influentes. Os dados sugerem que os colecionadores reconhecem a relevância histórica e conceitual das obras, premiando inovação e impacto cultural. Em um mundo dominado pela arte conceitual, é natural que a juventude seja a fase de maior expressividade. Galenson nos mostra que, em muitos casos, o mercado está alinhado com a história da arte.
Texto adaptado a partir do estudo de David W. Galenson (NBER Working Paper No. 11644).
6 dicas para um artista ter reconhecimento internacional
1. Invista na ideia, não apenas na técnica
O estudo mostra que os artistas mais valorizados hoje são conceituais, ou seja, priorizam ideias fortes, simbólicas e provocativas, muitas vezes mais do que a execução manual em si.
Sugestão:
Crie obras que expressem conceitos claros, originais e com poder crítico. Pense na obra como um posicionamento no mundo, não apenas como estética.
2. Busque formação em centros de arte reconhecidos
Galenson destaca que muitos artistas consagrados estudaram em escolas de arte de prestígio, como Yale e Goldsmiths. Esses espaços são importantes não apenas pela técnica, mas pelo network, exposição e validação institucional.
Sugestão:
•Procure bolsas, intercâmbios e residências em instituições internacionais.
•No Brasil, foque em escolas e programas com visibilidade (como EAV Parque Lage, FAAP, USP, UFRJ etc.) e tente expandir sua formação para fora do país sempre que possível.
3. Envolva-se com outros artistas e crie redes
Segundo o estudo, muitos artistas conceituais cresceram em comunidades criativas, onde colaboração e troca de ideias foram essenciais para amadurecer suas obras.
Sugestão:
•Participe de coletivos, projetos colaborativos, grupos de estudo e residências artísticas.
•Construa uma rede ativa com outros artistas, curadores, críticos e galeristas.
4. Busque visibilidade internacional
Nova York e Londres ainda dominam a cena, mas há abertura para novos polos — inclusive com artistas latinos ganhando espaço.
Sugestão:
•Participe de feiras e bienais internacionais (como SP-Arte, ArtRio, Bienal de São Paulo, e feiras no exterior).
•Mantenha seu portfólio e seu site em inglês.
•Aplique para editais e prêmios internacionais.
5. Produza com intenção desde cedo
O estudo mostra que os artistas conceituais costumam atingir o auge criativo e de impacto por volta dos 30 anos, com ideias fortes surgindo no início da carreira.
Sugestão:
Não espere o “momento certo” para produzir algo grandioso. Comece cedo a desenvolver projetos ambiciosos, e documente bem sua trajetória desde o início.
6. Trabalhe sua narrativa e seu posicionamento
Os artistas mais valorizados construíram uma identidade intelectual e estética clara, alinhada a um discurso potente.
Sugestão:
Desenvolva um statement coerente, que traduza seu trabalho para diferentes públicos (curadores, mercado, público leigo). Pense estrategicamente em como sua obra se insere no debate contemporâneo.
Conclusão
O mercado valoriza ideias poderosas, autenticidade, inovação e inserção em redes influentes. Para o artista brasileiro, isso significa sair do isolamento, buscar formação qualificada, circular com sua produção e construir um discurso que dialogue com o mundo.