Nos últimos vinte anos, o mercado global de arte passou por transformações profundas: a consolidação das feiras de arte como centros de transação, o crescimento das plataformas digitais de venda, a maior presença de instituições não ocidentais em bienais demonstram como o campo artístico tornou-se simultaneamente mais acessível e mais competitivo.
Nesse cenário, artistas emergentes enfrentam um desafio duplo: por um lado, a ampliação de circuitos e ferramentas permite maior autonomia na construção da carreira; por outro, o excesso de oferta e o aumento das exigências institucionais demandam estratégias claras de posicionamento. É nesse contexto que se torna crucial compreender quais comportamentos e escolhas são comuns entre aqueles que conseguem não apenas expor, mas consolidar sua presença no sistema da arte.
Este artigo analisa dez padrões comportamentais recorrentes entre artistas que vêm alcançando sucesso em suas trajetórias internacionais. As análises se baseiam em bibliografia especializada, relatórios de mercado e casos empíricos, buscando oferecer não fórmulas prontas, mas elementos estratégicos capazes de orientar decisões conscientes e alinhadas ao próprio projeto poético e profissional do artista.
1. Narrativa autoral potente e coerente
No sistema simbólico das artes visuais, o artista não é apenas produtor de objetos estéticos, mas também um sujeito discursivo. Sua história de vida, seus vínculos comunitários, suas escolhas políticas e suas obsessões formais formam uma narrativa autoral que pode ser comunicada tanto pela obra quanto por textos curatoriais, falas públicas e presença digital.
Segundo Howard Becker (1982), no campo da arte, a legitimidade não é garantida apenas pela obra em si, mas pelo modo como o artista se insere nas “redes cooperativas” que atribuem sentido e valor à sua produção. Em outras palavras, o artista precisa ser capaz de contar sua história — e essa história precisa ser coerente com sua obra.
Um exemplo emblemático é o da artista colombiana María Berrío, cuja trajetória pessoal — nascida em Bogotá e radicada nos EUA — se reflete diretamente nas colagens que evocam deslocamento, memória e hibridismo cultural. Suas exposições internacionais são acompanhadas por textos que situam seu trabalho dentro de debates pós-coloniais, feministas e ecológicos, criando um circuito virtuoso entre biografia e estética.
Na cena brasileira, artistas como Jaider Esbell (1979–2021) exemplificam esse mesmo princípio. Suas obras, profundamente ligadas ao pensamento cosmológico e à resistência indígena, encontraram lugar em instituições de prestígio internacional porque se apresentavam não apenas como objetos visuais, mas como partes de uma narrativa identitária potente e politicamente situada.
2. Domínio técnico integrado à clareza conceitual
Em um cenário de crescente profissionalização do meio artístico, não basta que o artista “tenha talento” ou “originalidade”. É preciso aliar domínio técnico — entendido como controle dos materiais, procedimentos e linguagens — a uma proposta conceitual consistente, capaz de dialogar com o campo expandido das artes e com questões contemporâneas.
Pierre Bourdieu (1996) já indicava que o reconhecimento no campo artístico está diretamente relacionado à capacidade do artista de se posicionar simbolicamente, ou seja, de inserir sua produção em discursos mais amplos, legitimados por instituições, curadores e críticos. Assim, uma pintura pode ser formalmente impressionante, mas se ela não for capaz de evocar ou tensionar questões relevantes, sua inserção institucional será limitada.
Tomemos como exemplo o trabalho do artista nigeriano Toyin Ojih Odutola. Sua pesquisa sobre identidades negras e ficção histórica é materializada por meio de retratos feitos com grafite e pastel com precisão técnica extraordinária. Esse domínio do fazer, somado à profundidade conceitual de seus projetos narrativos, resultou em exposições individuais em museus como o Whitney e o Barbican.
A mesma relação pode ser observada em artistas brasileiros como Maxwell Alexandre. Sua pintura monumental, desenvolvida nas ruas da Rocinha e posteriormente em ateliês profissionais, mantém a força expressiva das narrativas periféricas ao mesmo tempo em que articula discursos sobre raça, consumo e religiosidade no Brasil contemporâneo. O reconhecimento de sua obra por instituições como o Palais de Tokyo e a Pinacoteca de São Paulo atesta a potência dessa combinação entre técnica e conceito.
3. Inserção em redes institucionais e circuitos curatoriais
A trajetória de um artista raramente é solitária. Ao contrário: a consolidação da carreira depende, em grande parte, da sua capacidade de criar vínculos com instituições culturais, curadores, mentores, galerias e coletivos. Tais redes operam como vetores de legitimação simbólica e viabilização material da produção artística.
Segundo a pesquisadora Nathalie Heinich (1998), o reconhecimento artístico resulta de um sistema de mediações, no qual críticos, curadores e instituições funcionam como instâncias de validação. Logo, estar inserido em exposições com curadoria qualificada, integrar residências renomadas ou participar de programas educativos institucionais é mais do que um diferencial — é um divisor de águas.
As residências artísticas, por exemplo, funcionam como aceleradores de carreira. Além do tempo dedicado à pesquisa e produção, oferecem intercâmbio internacional, apoio institucional e, frequentemente, acesso a curadores e colecionadores. Programas como a Rijksakademie (Holanda), Gasworks (Reino Unido), Delfina Foundation (Londres) e Pivô (Brasil) têm sido trampolins para artistas que, após essas experiências, passaram a figurar em bienais e coleções públicas.
Exemplo disso é o artista chileno Iván Navarro, cujo trabalho com luz e crítica ao autoritarismo se fortaleceu após residências em Nova York e Paris. No Brasil, artistas como Aline Motta e Ayrson Heráclito usufruíram do prestígio acumulado por suas participações em programas internacionais para alavancar suas carreiras institucionalmente.
Em contextos de menor infraestrutura pública — como em países da América Latina ou África —, o fortalecimento de redes independentes (espaços autogestionados, coletivos curatoriais, bienais alternativas) também cumpre esse papel. A circulação internacional não depende, necessariamente, de inserção em grandes galerias, mas de articulações estratégicas entre agentes culturais diversos.
4. Diálogo com temas contemporâneos
A arte contemporânea, por definição, é permeada por questões do tempo presente. Por isso, artistas que conseguem traduzir com sensibilidade — e de forma não literal — os grandes debates da atualidade tendem a ocupar maior espaço na cena global.
Temas como identidade de gênero, raça, pertencimento, meio ambiente, migração, violência, colonialismo e tecnologia são centrais para a produção e a curadoria contemporâneas. Mas é importante ressaltar: não se trata de “ilustrar causas”, e sim de tensionar essas questões por meio da linguagem artística, oferecendo novas formas de ver, sentir e pensar.
A artista americana Simone Leigh, por exemplo, conquistou projeção internacional ao articular escultura, performance e instalação com uma estética afro-feminista centrada no corpo e na ancestralidade. Sua participação na Bienal de Veneza de 2022, representando os Estados Unidos, foi aclamada por sua originalidade formal e densidade política.
No contexto brasileiro, nomes como Rosana Paulino, Gê Viana e Élle de Bernardini vêm construindo obras que não apenas denunciam estruturas de opressão, mas também propõem poéticas de reparação e reinvenção simbólica.
A capacidade de abordar temas contemporâneos com complexidade, evitando soluções simplistas ou panfletárias, é um diferencial que atrai curadores, pesquisadores e colecionadores atentos às transformações do mundo. Segundo dados do relatório Art Basel & UBS (2023), obras que articulam preocupações sociais com alta qualidade estética são as mais disputadas por museus e coleções institucionais.
5. Hibridismo de mídias e formatos
A rigidez de categorias tradicionais — como “pintura”, “escultura” ou “desenho” — tem sido amplamente superada na arte contemporânea. Hoje, espera-se que o artista seja capaz de transitar entre mídias, experimentar linguagens e explorar suportes não convencionais. Esse hibridismo não é apenas uma questão estética, mas também estratégica: amplia as possibilidades de circulação da obra em diferentes contextos.
A teoria do “campo expandido”, proposta por Rosalind Krauss nos anos 1970, continua sendo uma referência para pensar a interseção entre meios. Artistas emergentes que exploram simultaneamente vídeo, instalação, performance e mídias digitais constroem narrativas mais ricas e versáteis, capazes de dialogar tanto com galerias comerciais quanto com instituições públicas, espaços alternativos e redes online.
Um exemplo notável é o da artista visual e cineasta francesa Laure Prouvost. Seu trabalho, que combina vídeo, escultura, poesia e experiências imersivas, rompe fronteiras disciplinares e cria um universo próprio, premiado com o Turner Prize e presente em bienais e museus ao redor do mundo.
Na América Latina, artistas como Tania Bruguera (Cuba) e Regina José Galindo (Guatemala) ampliaram os limites da performance e da ação política, enquanto no Brasil, artistas como Ventura Profana e Vivian Caccuri exploram música, instalação, som e espiritualidade em composições que desafiam a categorização.
A fluidez entre linguagens também facilita parcerias interdisciplinares e inserções em projetos educativos, ambientais, urbanos ou tecnológicos, ampliando o alcance e a sustentabilidade das práticas artísticas. O artista do século XXI não é apenas criador de imagens, mas agente multidimensional, capaz de articular discursos, técnicas, mídias e contextos.
6. Participação ativa em programas de formação, residências e feiras
A formação de um artista não se encerra na graduação ou em cursos técnicos: trata-se de um processo contínuo e cumulativo. Artistas emergentes que consolidam suas carreiras internacionais são, em sua maioria, aqueles que reconhecem o valor da aprendizagem permanente — seja por meio de residências, mentorias, ateliês coletivos, intercâmbios ou programas educativos promovidos por museus e fundações.
De acordo com o estudo de Bilton e Cummings (2014), as “práticas reflexivas contínuas” são características centrais dos profissionais criativos que conseguem sustentar suas trajetórias em mercados instáveis. Isso significa que o artista precisa não apenas produzir, mas também refletir criticamente sobre sua prática, trocar com pares, expor-se a novas metodologias e dialogar com diferentes públicos.
Programas como o Open Studios da Cité Internationale des Arts (Paris), o ISCP de Nova York e o Gasworks de Londres não apenas oferecem ateliês temporários e bolsas, mas também promovem encontros com curadores, críticos e colecionadores. Essas experiências muitas vezes resultam em exposições coletivas e convites para futuras mostras.
Em feiras, o circuito paralelo também cumpre papel fundamental. Plataformas como a The Other Art Fair (organizada pela Saatchi Art) e a Superfine! (nos EUA e Europa) oferecem estrutura para que artistas independentes mostrem suas obras diretamente a compradores e galeristas, criando pontes comerciais fora do circuito das “mega galleries”.
No Brasil, programas como o Red Bull Station, Programa CCSP de Residência, Pivô Pesquisa e FAAP Residência Artística também cumprem essa função. Artistas como Daniel Lie e Romy Pocztaruk iniciaram suas projeções internacionais a partir desses espaços, nos quais a convivência com curadores e interlocutores críticos gerou impactos significativos em suas trajetórias.
Portanto, participar ativamente de formações e programas institucionais não é apenas questão curricular, mas uma estratégia de inserção em redes simbólicas e econômicas fundamentais para a consolidação artística.
7. Marca pessoal e autopromoção estratégica
No século XXI, o artista não é apenas um criador de obras: é também uma figura pública, um comunicador, um gestor de sua própria imagem. Saber construir uma marca pessoal coerente com sua poética, seus valores e seus objetivos é parte inegociável do sucesso profissional.
Esse conceito, muitas vezes mal compreendido como “autopromoção vazia”, refere-se à consistência narrativa e estética em todos os pontos de contato entre artista e público: portfólio, redes sociais, site pessoal, materiais impressos, entrevistas, falas públicas e aparições em mídia. Como destacam Fillis e Lee (2011), a clareza de posicionamento e a capacidade de comunicar valores artísticos aumentam significativamente o engajamento com públicos diversos, incluindo colecionadores, curadores e imprensa.
Redes sociais como Instagram, TikTok e Vimeo tornaram-se vitrines cruciais para o artista contemporâneo — mas exigem estratégia. Publicar apenas imagens de obras finalizadas pode não ser suficiente. Documentar processos, compartilhar reflexões sobre materiais e contextos, dialogar com o público e apresentar bastidores ajudam a construir uma percepção de autenticidade e profundidade.
O artista sul-coreano Do Ho Suh, por exemplo, mantém um portfólio digital elegante e articulado com sua estética minimalista e suas preocupações com migração e memória. Já a artista brasileira Lyz Parayzo utiliza o Instagram como plataforma de ativismo visual, performando sua obra e identidade como extensão do mesmo discurso.
Além da presença digital, a marca pessoal se fortalece com materiais institucionais bem cuidados: um portfólio objetivo, com textos bem escritos, imagens em alta resolução, currículo atualizado e proposta artística clara. O mesmo vale para falas em entrevistas e press releases — que devem traduzir com clareza a singularidade da prática artística.
Investir em comunicação não significa “vender-se”, mas tornar compreensível e desejável aquilo que se propõe. Quando feita com integridade, a gestão de imagem amplia o alcance da obra e abre portas fundamentais para sua difusão.
8. Pivôs de diversidade: gênero, raça, geografia
Uma das transformações mais impactantes no sistema global da arte nos últimos quinze anos é o deslocamento do eixo eurocêntrico e masculino que dominava as coleções e programações institucionais. A busca por diversidade geográfica, étnica e de gênero tornou-se, não apenas um imperativo ético, mas também um critério de inovação curatorial e atratividade comercial.
Relatórios da ArtTactic e da UBS mostram crescimento constante no número de artistas mulheres, LGBTQIA+, indígenas e afrodescendentes representados por galerias de prestígio, convidados para bienais e incluídos em coleções museológicas. Esse movimento responde à pressão de ativistas, educadores e pesquisadores, mas também ao desejo de um público global mais atento às questões de representatividade.
Artistas como Zanele Muholi (África do Sul), Otobong Nkanga (Nigéria/Bélgica), Kent Monkman (Canadá), Firelei Báez (República Dominicana/EUA) ou Ja’Tovia Gary (EUA) exemplificam como é possível articular identidades não hegemônicas com pesquisa formal sofisticada, criando obras de forte impacto estético e político.
No Brasil, além de Rosana Paulino e Maxwell Alexandre, destacam-se artistas como Denilson Baniwa, Sonia Gomes e Ventura Profana — todos com obras fortemente conectadas às suas origens culturais e aos tensionamentos do presente.
É importante ressaltar que a valorização dessas trajetórias não se resume à origem dos artistas, mas à sua capacidade de tensionar, por meio da arte, os imaginários coloniais e os discursos eurocentrados da história da arte.
A partir dessa lógica, o artista emergente que reconhece sua identidade como um campo de potência — e não de limitação — pode construir um discurso mais robusto, diferenciado e alinhado com as principais agendas curatoriais e institucionais da atualidade.
9. “Hot streaks” e continuidade criativa
Estudos recentes em sociologia da arte e análise de dados têm identificado padrões de produção intensiva e altamente impactante na carreira de artistas, conhecidos como hot streaks — períodos nos quais uma sequência de obras atinge grande repercussão crítica, institucional e comercial. Essa ideia, originalmente explorada no campo científico, foi adaptada ao universo das artes visuais por Liu et al. (2018), que demonstraram como tais momentos de “explosão simbólica” são precedidos por longos ciclos de maturação.
Ao contrário da imagem romântica do “gênio espontâneo”, os dados sugerem que os artistas que atingem hot streaks o fazem após anos de pesquisa, experimentação e construção de rede. Quando esse momento chega — muitas vezes através de uma exposição marcante, uma premiação ou um ciclo de vendas elevado —, o artista passa a ter acesso a novos circuitos, patamares de preço e colaborações institucionais antes inalcançáveis.
A italiana Giulia Andreani, por exemplo, teve sua carreira impulsionada após uma sequência de exposições que articulavam história da arte e feminismo sob uma estética monocromática distintiva. Seu momento de maior projeção foi sustentado por anos de pesquisa histórica, estudos formais e inserção em feiras internacionais de médio porte.
No Brasil, podemos citar o caso de Castiel Vitorino Brasileiro, cuja pesquisa em torno da corporeidade, da negritude e da ancestralidade gerou um ciclo de reconhecimento institucional notável entre 2020 e 2023, com exposições em espaços como MASP, MAR e Bienal de São Paulo.
A lição aqui é clara: hot streaks não são aleatórios — são frutos da preparação consistente e da clareza conceitual. Quando o contexto se alinha, o artista preparado consegue aproveitar a oportunidade, consolidando sua presença como referência no campo.
10. Distribuição equilibrada entre mercado primário e secundário
Um erro comum entre artistas emergentes é focar exclusivamente em galerias ou plataformas digitais, sem compreender as dinâmicas mais amplas do mercado. A distinção entre mercado primário (primeira venda da obra) e mercado secundário (revendas por colecionadores ou leiloeiras) é fundamental para uma estratégia de longo prazo.
No mercado primário, o artista tem maior controle sobre o preço, o destino da obra e sua relação com o colecionador. Já no secundário, ele perde parte desse controle, mas ganha em visibilidade e prestígio, sobretudo quando suas obras são revendidas com valorização.
É importante, portanto, construir uma rede equilibrada de canais:
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Galerias parceiras, que oferecem suporte curatorial e comercial;
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Feiras de arte acessíveis, que possibilitam contato direto com novos colecionadores;
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Plataformas online confiáveis, como Artsy, Arteindex, ArtRabbit ou Saatchi Art;
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Leilões de arte jovem, como os promovidos por instituições educativas ou casas de médio porte.
Essa diversificação fortalece a estabilidade financeira do artista, reduz a dependência de um único canal e permite testar diferentes públicos e precificações.
A curadoria desse ecossistema comercial é, hoje, parte indissociável do trabalho artístico. Profissionais bem-sucedidos sabem onde, como e com quem expor — e fazem disso uma extensão de sua estratégia poética.
11. Resumo dos padrões comportamentais
Para sistematizar as estratégias discutidas, apresentamos abaixo uma síntese dos comportamentos observados entre artistas emergentes de sucesso:
Padrão |
Impacto na Carreira |
---|---|
Narrativa autoral consistente |
Construção de identidade forte e poética reconhecível |
Domínio técnico + clareza conceitual |
Legitimidade institucional e curatorial |
Inserção em redes institucionais |
Acesso a exposições, coleções e programas de fomento |
Diálogo com temas contemporâneos |
Relevância social, crítica e editorial |
Hibridismo de mídias e formatos |
Maior adaptabilidade a diferentes espaços e plataformas |
Participação em programas e feiras |
Fortalecimento de currículo, rede e reputação |
Marca pessoal estratégica |
Ampliação de visibilidade e engajamento com públicos diversos |
Reconhecimento da diversidade como potência |
Inserção em agendas curatoriais atuais |
Preparação para ciclos de visibilidade (“hot streaks”) |
Aproveitamento estratégico de oportunidades de projeção |
Diversificação entre canais de venda |
Sustentabilidade financeira e ampliação de colecionadores |
12. Implicações para a estratégia de carreira
A adoção consciente desses padrões não significa transformar o artista em um empreendedor no sentido vulgar do termo. Trata-se, antes, de compreender a carreira artística como um projeto de vida que exige escolhas racionais, ética poética e sensibilidade para as transformações do mundo.
Para os artistas emergentes que desejam construir uma trajetória sólida no mercado internacional, algumas orientações podem ser destacadas:
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Cultivar clareza poética e coerência narrativa;
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Investir em formação contínua e residências qualificadas;
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Mapear redes institucionais relevantes para sua linguagem;
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Praticar a autoavaliação crítica e a escuta ativa de curadores e pares;
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Criar uma presença digital autêntica e integrada à obra;
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Estabelecer metas claras de circulação, respeitando o tempo de maturação da obra.
A combinação entre planejamento estratégico e compromisso artístico é o caminho mais seguro — embora sempre incerto — para a longevidade e o reconhecimento.
13. Considerações finais
O sistema da arte é dinâmico, exigente e cada vez mais competitivo. Mas também é, paradoxalmente, um dos poucos espaços sociais onde a singularidade ainda é uma moeda de valor. O artista que reconhece sua especificidade, que pensa sua carreira como um ecossistema complexo e que se articula com responsabilidade crítica ao seu tempo, tem mais chances de construir uma trajetória sustentável e transformadora.
Este artigo não pretende oferecer fórmulas ou receitas, mas ferramentas de análise e inspiração para que cada artista possa construir, a partir de si, um percurso sólido. Mais do que “vender obras”, trata-se de criar mundos possíveis, tensionar o imaginário, expandir os limites da sensibilidade.
O sucesso, nesse sentido, é menos um destino e mais uma travessia — longa, bela e cheia de desvios férteis.
Referências bibliográficas (norma ABNT)
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